quinta-feira, 11 de julho de 2013

Segredos de Sangue, de Park Chan-Wook, 2013.









Primeiro filme em inglês do sr. Park Chan-Wook.

Sabe aqueles filmes que tem tudo certo: elenco, cenários, fotografia, direção, mas por algum motivo inexplicável não dão certo? Então, Segredos de Sangue é um filme desses.

Tenho certeza que muita gente vai curtir. Não é nem de longe um filme ruim, ao contrário, há vários bons momentos nesta história de uma garota introspectiva que acabou de perder o pai, não gosta nem um pouco da mãe e começa a se sentir atraída pelo tio recém chegado.

Há algo ali que não dá liga. Talvez eu seja meio burro e tenha achado tudo um tanto frouxo. Não sei. Mas é o mesmo sentimento que me acometeu quando eu vi o filme anterior do Chan-Wook, Sede de Sangue.

O roteirista afirmou : "Não é uma história sobre vampiros. Nunca foi nossa intenção falar sobre os vampiros, mas é uma história de terror. É como um fogo vivo que é atiçado, e que também liga-se muito bem com a narrativa"

As imagens são soberbas, o clima é sempre de tensão sexual.

Mas há algo ali que não dá certo.

Um amigo falou sobre uma mise en scène trabalhada no exagero. Um outro comentou a total falta de originalidade da história e como nada faz muito sentido. Um outro ainda aponta a péssima atuação do tio da menina.

Acho que é o filme que todos irão elogiar no bar, e eu vou ser o único a criticar.

Em Família, de Paulo Porto, 1971.












A questão: é possível realizar um drama familiar comovente sem ser piegas?
Evidente que é possível.
Infelizmente a telenovela sufoca por completo qualquer possibilidade de dramaturgia de qualidade.

Um casal de idosos, prestes a serem despejados da casa onde viveram toda a vida, recorrem aos filhos crescidos para que os ajudem a encontrar um lugar para viver. Cada um reage à situação de uma forma diferente. Alguns se importam mais, outros são mais egoístas. Mas não há maniqueísmos. O espectador pode se ver em diversas situações, e se identificar com os personagens mais insensíveis. Não é algo que ocorre com frequência.

O elenco é excepcional, mas o destaque pra mim é a Fernanda Montenegro, linda e jovem, no papel da esposa costureira de um dos filhos, uma mulher de muito coração.

Grande filme!

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Spring Breakers, de Harmony Korine, 2012.















Me senti velho ao ver o filme com o olhar de quem tenta entender uma nova geração (estou ficando definitivamente velho). Embora a sensação de vazio pela qual passa as meninas do filme seja algo que todo ser humano com um mínimo de sensibilidade entende, creio que há um grande abismo entre a minha juventude e a retratada no filme.

Mas isso não importa.

O que importa é que se eu fosse uma garota de 16 anos este provavelmente seria meu filme favorito.

Não é o melhor Korine. Gummo continua imbatível. Mas é uma estética chapante, condizente com uma balada de música eletrônica. Tudo é muito colorido - as cores estão sempre estouradas -, a ponto de se tornar irreal. Tudo em neon, com uma edição que reitera ou antecipa diversas cenas.

Há a busca de um certo grau de caos.

A história é básica: quatro amigas adolescentes insatisfeitas planejam ir passar as férias de primavera na Flórida. Tudo é lindo e maravilhoso, até o momento em que são presas por estar numa festa cheia de drogas. Um traficante paga a fiança e o grupo será reconfigurado.

O traficante do James Franco é uma criação genial. Há vários momentos incríveis, grande atuação.

As meninas parecem que saíram de um seriado da Disney. O que condiz com a proposta, afinal é um mundo cor de rosa que se choca com um outro muito mais brutal (notam a última foto ali em cima, quando elas se aproximam da casa do traficante inimigo. A casa é banhada de um neón rosa, o que dá a idéia de que elas irão invadir a casa da Barbie).

Todas elas tem uma forte atração pelo abismo.

Mas algumas irão mais longe que as outras.

Passion, de Brian De Palma, 2012.
















Antes de mais nada: filmaço!

De Palma é dos incontestáveis gigantes do cinema, e por isso me espanta o quanto ele anda esquecido atualmente. Sério, pq?? Veja só, o Guerra sem Cortes, de 2007, nem teve lançamento no Brasil (pelo que sei. Aliás, até hoje não consegui vê-lo). O diretor ficou cinco anos sem filmar, e agora volta com este suspense, um remake de uma produção francesa.

Sinceramente: a história é pretexto.

De Palma se vale de uma trama de vingança entre duas mulheres que trabalham em uma empresa de publicidade para criar um clima de ambiguidade geral. Duvidamos sempre das intenções dos personagens, de suas ações, e a certa altura passamos a duvidar inclusive daquilo que estamos vendo.

Tudo num clima sexual evidente, mas que se impõem de maneira muito sofisticada. Aos sussurros.

E não dá pra não falar de como o filme lida com as imagens. As protagonistas lidam com isso. Fazem comerciais. A certa altura uma delas apresenta uma propaganda filmada com seu celular. Há o skype. Há a câmera de vigilância do prédio. E também há os truques usados pelo próprio filme, como a divisão da tela em duas (grande marca de De Palma).

Enfim, obra de mestre.

Que se vê com muito prazer.



À Beira do Caminho, de Breno Silveira, 2012.










Breno Silveira indiscutivelmente sabe fazer filmes populares, sem deixar de fora a questão artística e autoral. Dois Filhos de Francisco foi um sucesso estrondoso, e mesmo seguindo a cartilha de filmes "sobre gente que chegou lá", o filme é muito bom. Esse À Beira do Caminho foi lançado no mesmo ano de seu outro filme, o Gonzaga, que fez muito mais sucesso. Esse aqui passou um tanto despercebido. Pena.

Aliás foi um filme vendido como uma história de amor marcada pelas músicas de Roberto Carlos. É isso também, mas muito mais. O uso da música no filme é ótima (e não há só canções do Rei). Elas fazem certas cenas crescerem muito.

Trata-se de um drama envolvendo um caminhoneiro de coração partido e uma criança abandonada, coisa que facilmente resultaria num dramalhão choroso. Mas aqui não, e grande parte do mérito é do excepcional João Miguel, um dos atores mais incríveis deste país.

Seu personagem é um sujeito duro. Um cara endurecido pelas desilusões.

Seu encontro com o moleque é bruto, e toda a relação entre os dois será marcada pela rispidez e desconfiança.

Confesso que deixei muita lágrima cair com este filme.